Começar a navegar por este mar de águas profundas, mas nem sempre tão cristalinas, que é este mundo de Baco, muito por culpa da imensidão das propostas existentes ao alcance das nossas mãos, não se adivinha tarefa fácil. Mas a New Woman dá-lhe uma ajuda à navegação.
Para quem só agora despertou o seu interesse ou curiosidade por este tipo de temáticas, a decisão mais ajustada é ir moldando o palato de forma gradual.
Assim sendo, a primeira medida a tomar é procurar vinhos mais leves, frescos, jovens, menos alcoólicos e ir evoluindo para vinhos mais encorpados, mais estruturados e mais complexos.
Posto isto, encontraremos este tipo de vinhos nas prateleiras das garrafeiras dos vinhos verdes. Vinhos verdes não resultam de uvas que ainda não amadureceram, ou seja, uvas verdes, mas sim de uvas provenientes de uma região muito concreta, designada Região Demarcada dos Vinhos Verdes.
Devido à existência de rios e à proximidade do atlântico, o clima é ameno e a precipitação elevada. Por este motivo a região ostenta extraordinárias paisagens verdes! Será esta circunstância que explica a designação de “Região dos Vinhos Verdes” e que se situa entre o Douro litoral e o Minho.
O clima, o solo (principalmente granítico), e claro, as castas específicas da região, dão origem aos mais aprazíveis vinhos leves e frescos que se aconselham para começar a desenvolver o gosto pelo “bem beber”.
Contudo, esta região também possui vinhos mais estruturados e complexos (dos quais falarei noutra oportunidade), pois goza de um microclima que lhe permite dividir-se em nove sub-regiões, cada uma delas oferecendo características específicas, próprias de cada “terroir”.
A Região Demarcada dos Vinhos Verdes é classificada como Região de Denominação de Origem Controlada (DOC). As suas castas são originárias desta zona do nosso país. Só nesta área geográfica existem dezenas de castas diferentes, que podem ser usadas de forma a produzir vinhos “blend” ou “varietais”, isto é, usando duas ou mais castas ou somente uma, respetivamente.
Alguns exemplos de castas desta região, são Alvarinho, Arinto, Azal, Loureiro, Trajadura, entre outras, para vinhos brancos e Touriga Nacional, Trincadeira, Verdelho Tinto, Espadeiro, entre outras para vinhos tintos.
A produção dos vinhos leves, brancos ou tintos, começa (como todos os outros), logo na vinha. Aproximadamente um mês antes da data provável da vindima investiga-se em que ponto se encontra a maturação das uvas. Repete-se este procedimento mais umas três vezes com uma semana de intervalo.
Este processo consiste na colheita de 250 bagos da mesma casta, apanhados aleatoriamente. Posteriormente no laboratório, são esmagados para se medir o açúcar através de um refratómetro. Esta técnica, com a ajuda de uma tabela de conversão, dá-nos a indicação sobre o álcool provável que o vinho terá.
É o momento portanto, de se definir a data das vindimas. Por norma as diferentes castas são recebidas nas adegas separadamente umas das outras e assim começa a azáfama da vinificação!
Complementando o que atrás explanei, sugiro dois excelentes exemplos que vos convido a considerar.
FELGUEIRAS
Vinho produzido com a casta Loureiro (Varietal), da Região Demarcada dos Vinhos Verdes e de Denominação de Origem Controlada (DOC).
Aconselha-se a ser consumido de imediato, mas também se pode conservar até dois anos de idade se se verificarem as condições apropriadas de armazenamento, como sendo local fresco, seco, ao abrigo da luz e neste caso manter as garrafas ao alto.
Exibe uma cor amarela limão, transparente e com uma ligeira efervescência. É suave, fresco, muito floral e frutado, apresentando nuances de maçã e limão. A percentagem de álcool baixa a média e acidez natural muito equilibrada, conferem-lhe um alto frescor e um corpo ligeiro com um final de boca delicado.
Deve acompanhar pratos de carnes brancas, pratos de peixe, bem como frutos do mar e alguns queijos. Além disso pode e deve ser tomado como aperitivo ou até fora das refeições juntamente com amigos e família. Temperatura de serviço entre os 9 e 10 graus centígrados ou mesmo ligeiramente mais baixa.
Ligeira síntese:
Cor- amarela limão, transparente, um tanto efervescente.
Nariz- muito floral e muito frutado. Aroma a maçã
Boca- fresco, nuances de maça e limão, acidez em equilíbrio com o álcool que contém. Corpo ligeiro e final de boca delicado.
Álcool: 11% V
CASAL GARCIA
Vinho de Denominação de Origem Controlada (DOC), produzido com castas oriundas da Região Demarcada dos Vinhos Verdes. É um “blend”. Na boca destaca-se a acidez muito bem combinada com o baixo teor alcoólico constituindo assim um vinho muito fresco, leve com ligeiro corpo. Frutado, com suaves apontamentos a frutas tropicais e limão, sentindo-se um agradável final de boca. Revela uma cor amarela limão, muito transparente, brilhante e efervescente.
Tal como o anterior, e no sentido de se desfrutar de todo o seu potencial, sugere-se que não se escolha este vinho para guardar. Todavia pode-se armazenar até dois anos de idade (a partir da data de engarrafamento), nas devidas condições de guarda. Por conseguinte arrumar as garrafas em local seco e fresco, resguardadas da luz e de pé,
A temperatura de serviço recomendada é entre os 8 e os 9 graus centígrados. A sua harmonização deve ser feita com sushi, saladas, frutos do mar. Por ser leve e jovem constitui uma boa opção para tomar nos dias quentes e num contexto de socialização e não apenas para acompanhar as refeições.
Ligeira síntese
Cor – amarela limão. Límpido, brilhante. Alguma efervescência
Nariz- floral, frutado, suaves notas tropicais.
Boca- jovem, leve, fresco, frutado sentindo-se matizes a frutos tropicais e limão. Corpo ligeiro, bom equilíbrio entre a acidez e álcool e agradável final de boca
Álcool- 9,5%
LAGOSTA
Sendo este artigo dedicado aos vinhos verdes e dado que a reputada marca LAGOSTA celebra este ano o seu centésimo vigésimo aniversário, gostaria de assinalar tão afortunada data apresentando de forma resumida quatro vinhos. Dois brancos (branco e branco ice) e dois rosés (rosé e rosé ice).
Em resultado da vasta experiência e saber acumulados ao longo destes 120 anos, o rótulo LAGOSTA afirma-se neste mundo pela elevada qualidade dos néctares que produz.
São quatro vinhos de Denominação de Origem Controlada (DOC), elaborados com castas, todas elas, originárias desta região dos vinhos verdes.
Fermentados após uma prensagem pneumática. Significa que quando se separa o miolo das películas e das grainhas estas não se dilaceram e então os compostos que não são desejados para a elaboração deste tipo de vinhos, não passam para o mosto. Este facto confere a estes vinhos suavidade, juventude, frescura, leveza e muito aroma. São vinhos que devem ser consumidos e não guardados muito tempo.
Os brancos, à vista, exibem uma cor amarelada com traços de limão verde. Aparência límpida, transparente e brilhante. Apresentam ainda alguma efervescência.
Na boca, experimenta-se o requinte da harmonia entre a acidez, a doçura e o álcool reduzido. Frutados, identificam-se toques de frutos tropicais. Possuem suavidade, corpo leve e um final de boca longo.
O aroma é frutado salientando-se a fragância de frutos tropicais de que dou exemplo a manga.
Os rosés, evidenciam cores rosa intenso no lagosta rosé e rosa pálido no lagosta rosé ice. Ambos ostentam cores transparentes, brilhantes e cristalinas. Um e outro revelam alguma efervescência.
Na boca, aprecia-se o equilíbrio entre o álcool, a acidez e o açúcar. Vinhos suaves, frescos, frutados. No lagosta rosé é evidente o sabor de frutos vermelhos, nomeadamente morangos maduros e framboesas. Manifestam, os dois, corpo leve e fim de boca algo persistente.
Breve síntese:
Lagosta Branco
Cor- amarela limão, brilhante e límpido. Apresenta alguma efervescência.
Nariz- frutado, aroma a lembrar a manga.
Boca- suave, acidez bem combinada com o açúcar. Teor de Álcool baixo, revelando um final de boca persistente.
9% V
Lagosta Branco Ice
Cor- amarela limão, transparente, límpido e efervescente.
Nariz- frutado, frutos tropicais.
Boca- muito frutado, suave, fresco e doce. Volume de álcool baixo. Acidez muito bem equilibrada com o açúcar. Toques de frutos tropicais. Bom fim de boca.
Deve ser bebido bem fresco ou até acrescentando gelo.
9%V
Lagosta Rosé
Cor- Rosa intenso, cristalino e muito brilhante, efervescente.
Nariz- frutado, floral. Aroma a frutos vermelhos
Boca- fresco, frutado, doce. Sabor a morangos maduros, a framboesas. Acidez equilibrada, volume de álcool reduzido. Corpo leve e persistente.
10.5%V
Lagosta Rosé Ice
Cor- rosa pálido, límpido, efervescente.
Nariz- frutado, frutos vermelhos.
Boca- frutado, frutos vermelhos. Doce, suave, fresco, acidez bem equilibrada com o açúcar. Teor de álcool baixo. Bom final de boca.
Sugere-se que se beba bem frio ou mesmo com gelo.
10%V
Devido às propriedades que estes quatro vinhos revelam, como sendo a leveza, a frescura, a juventude e o baixo volume de álcool, são adequados para harmonizarem com pratos de peixe grelados ou assados, com pratos japoneses, com crustáceos, saladas e ainda com queijos tipo roquefort. Aconselha-se a serem servidos a uma temperatura na ordem dos 6 graus centígrados. Muito indicados também para tomar como aperitivo.
Além disso, com o perfil que estes vinhos demonstram, são muito indicados para consumir e apreciar todo o ano, mas especialmente nesta época estival, não apenas às refeições, como também fora delas em agradáveis momentos de convívio social.
Para finalizar, e tendo em conta as análises sensoriais e o meu gosto pessoal, daria a primazia ao Lagosta Rosé. Seguir-se ia depois qualquer outro desta lista, uma vez que são todos excelentes escolhas.
Artigo por Cecília Pereira, enóloga