A New Woman esteve à conversa com a doula Sofia Moura para compreendermos melhor este termo grego.
Para desmitificarmos esta palavra grega e de maneira a dar a conhecer a todas as mulheres este conceito e opção de vida, a New Woman esteve à conversa com Sofia Moura, uma doula certificada pela Materlua, em Portugal.
Sofia Moura iniciou a nossa conversa explicando que “lá atrás, no tempo das bisavós, quase todas as mulheres pariam em casa. Os bebês nasciam em casa dentro do seu seio familiar. A grávida tinha uma rede de apoio – a parteira, as suas avós, as tias, as irmãs, mulheres mais velhas, vizinhas e amigas – que ajudavam durante a gestação e durante o próprio trabalho de parto. Ou seja, havia sempre a Presença de alguma cuidadora com a sua própria experiência de parir e maternar, para apoiar estas mulheres. Como por exemplo, umas traziam/faziam as refeições, outras limpavam a casa, outras massajavam o corpo, outras traziam um chá/refresco, uma manta ou almofada, um escalda pés e por aí em diante. Os irmãos mais velhos tomavam conta dos irmãos mais novos.” Sofia Moura acrescenta que” esta imagem de comunidade empática à volta da mulher era o que acontecia há muitos anos atrás. E que bonito que era! E o nascimento de um bebé era, de facto, um evento familiar onde todos participavam, assistindo com respeito, honrando a chegada de mais um ser humano”.
Contudo, Sofia confessa que “este apoio à família, foi-se perdendo ao longo dos anos devido ao avanço técnico da medicina, onde os partos passaram a ser feitos em contextos hospitalares. Por consequência, a instrumentalização exagerada feita nesse contexto, foi retirando à mulher a sua capacidade de acreditar que consegue parir deixando a sua confiança e bem-estar anulados. Foi-se criando uma sociedade em que a grávida perdeu o seu direito a ser acompanhada com dignidade e merecimento, sentindo-se mais sozinha, sem esta equipa de apoio, sem esta comunidade. É altura de resgatar isso”. – Conclui a Doula Sofia.
Doula, é uma palavra grega que significa “mulher que serve”, “mulher que está presente para apoiar a mulher, o casal e a família”. Contudo, não é um significado extremamente exclusivo feminino. Doula é uma pessoa que está ao serviço de outra. Existem tanto doulas femininas como masculinas. “No fundo temos um papel que mais ninguém tem, somente centrado na Mulher”, finaliza Sofia.
Nesta conversa, Sofia Moura partilhou que, hoje em dia, existem muitas grávidas que desconhecem este apoio da doula e que durante o parto e no período de pós-parto passam por experiências menos boas e até traumatizantes (violência obstétrica). Sofia confessa que “muitas mulheres procuram-nos para terem uma segunda experiência de parto mais consciente e humanizada comparativamente com a sua primeira. Outras já pariram com apoio de uma doula e equipa humanizada e querem voltar a repetir com qualidade as boas sensações/ experiência”.
Sofia Moura fez questão de frisar que “as grávidas, não têm de passar períodos sem qualquer acompanhamento. Todas as mulheres merecem estar acompanhadas! Mesmo que não consigam a contratação contínua de uma Doula, podem fazer sessões avulso e até já existem grupos de partilha de apoio e informação presenciais e online. Portanto, sinto que as mulheres também têm uma voz para ativar essa ajuda. Peçam apoio. E nós, em rede, estaremos cá para apoiar com as ferramentas adequadas a cada fase. E como tal, “é preciso inspirar à criação desta aldeia em redor da Mulher. Quando falo nas Doulas, refiro-me também a outros profissionais: terapeutas complementares, fisioterapeutas pélvicos, massagistas, nutricionistas, osteopatas, técnicos de exercício etc”.
Sofia Moura confessou que é difícil definir Doula numa só frase, contudo arriscou e confessou que “Doula é uma pessoa que entrega o seu apoio em amor e de várias formas, ajudando a mulher e o casal a terem uma experiência consciente de conexão com o seu corpo, com o próprio parceiro e com o bebé e assim poderem usufruir de uma experiência única de vida e inesquecível”.
“Informamos o casal acerca de vários temas do seu interesse, por exemplo surgem questões acerca: protocolos hospitalares e domiciliares, direitos de utentes, amamentação, fisiologia do parto, gestão e alívio natural de desconfortos, conexão de casal, necessidades básicas da mulher, bebe e casal, massagens, exercícios e posturas, preparação do pós-parto etc. Conteúdos esses que são matérias específicas do curso de Doula e na qual ela informa sob base científica” – esclarece Sofia Moura.
Aquando contratada pelo casal, a Doula faz uma sessão zero – numa conversa procura saber quais as necessidades /objetivos do casal. A partir daí a Doula propõe um número de sessões para facilitar o caminho desejado pelos futuros pais.
Sofia acredita que este trabalho durante a gestação “é um trabalho mais profundo do que um curso geral de preparação para o parto – que normalmente é só a ponta do iceberg. Eu como Doula, vou mais fundo, ao encontro da história individual da mulher, das suas necessidades mais profundas e esclareço todas as questões. É uma viagem de autoconhecimento puro para ela (grávida) e para o casal. Vão ter a oportunidade de falar sobre as coisas que não falam com a melhor amiga, por exemplo. Com a doula conseguem aceder a um espaço íntimo, seguro e de um alcance maior de consciência daquilo que estão a sentir, e como se preparar para um “melhor caminho “tanto na gestação, durante o próprio parto e sem nunca esquecer o evento do Pós-parto”. Sofia acrescenta que “esta contratação da Doula, devolve a confiança à mulher sobre o seu corpo.”
Ao chegarem os primeiros sinais de trabalho de parto, a grávida liga à sua Doula: “tanto pode ir a casa apoiá-la antes de ir para o hospital ou mesmo no hospital.” Neste contexto, a Doula apoia com as técnicas que a grávida necessita na altura: massagens, métodos de alívio natural da dor, encoraja e acalma a grávida, escuta e fica em presença. Quando a grávida sente que está pronta para parir, é encaminhada para o hospital.
Caso, seja uma escolha de parto domiciliar, a Doula é chamada (juntamente com a equipa de EESMO- enfermeiro especialista em saúde materna obstétrica) e fica perto da mulher até o trabalho de parto ser concluído. A Doula aqui vai ser a guardiã do espaço, portanto, ela está a vigiar, a apoiar a que aquela mulher esteja em paz e confortável para o seu corpo relaxar e fazer o seu melhor.
No que toca ao pós-parto este “é preparado durante a gestação com o casal e a Doula. As visitas da Doula nesta fase são de uma significativa importância”.
Deseja-se que mãe que está a aprender a ser mãe, não se sinta sozinha. Oferece-se:
“Ou seja, dar este colinho à mãe, este aconchego, para conversar e principalmente para que ela se sinta escutada“.
– Fornece apoio emocional, funcional e informativo
– Incentiva a utilização de medidas de conforto: respiração, relaxamento, movimento, massagens, posicionamento;
– Fornece informação e explicação de possibilidades durante o trabalho de parto;
– Tranquiliza e conforta, continuamente, a mãe;
– Encoraja a mãe a informar-se sobre várias escolhas de nascimento;
– Encoraja a mãe a comunicar as suas necessidades e desejos ao prestador de cuidados – não comunica por ela;
– Auxilia o parceiro no apoio à mãe no trabalho de parto; – Dá a conhecer outros apoios de profissionais
Sofia Moura, enquanto fundadora da Mother´s Nature, confessa que “muitas mulheres procuram-me para as apoiar fisicamente, na fase de pré e pós-parto. Na verdade, ainda não estão bem conectadas com o seu próprio corpo, não reconhecem este novo corpo. Desconhecem onde estão as suas emoções dentro desse corpo, como funciona o sistema fisiológico, como se conectar com o bebé e muitas vezes sentem-se perdidas no que respeita à sua própria identidade e essência”.
Acrescenta que “no serviço de Reencontro Físico procura-se esse reencontro com a sua essência- específico na fase em que se encontram. Então, eu alio as minhas técnicas de corpo e movimento, com as técnicas de Doular, o que torna todo o caminho da mulher – desde o 1º trimestre até ao pós-parto- mais satisfatório física e emocionalmente. Com o decorrer das sessões, descobrem uma versão interna poderosa que as transporta para uma consciência de corpo muito bonita e isso tem um impacto enorme na forma como lidam com o evento do parto e como se querem posicionar em relação a isso”.
Vários estudos comprovam os benefícios da presença da Doula durante a gestação, trabalho de parto e pós-parto:
Redução dos índices de cesariana;
Redução das taxas de intervenção desnecessárias;
Redução de incidência de depressão pós-parto;
Aumenta o sucesso da amamentação.
Artigo por Francisca Pinheiro