A relação entre a crise climática e a violência contra a mulher foi um temas discutidos na 50º sessão do Conselho dos Direitos Humanos da ONU.
A crise climática está a obrigar milhões de pessoas em todo o mundo à migração e ao deslocamento forçado. Esta é uma realidade exposta por Astrid Puentes Riaño, Consultora Independente sobre direitos humanos e alterações climáticas. De acordo com o ONU Enviroment, 80% das pessoas deslocadas são mulheres.
Michele Bachelet, Alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, participou num painel de discussão na 50º sessão do Conselho dos Direitos Humanos que explorou a relação entre a crise climática e a violência contra a Mulher. As causas e as consequências que levam ao encontro dos dois problemas moderaram a sessão.
Ao terem de abandonar o lugar onde vivem por causa das alterações climáticas, as mulheres correm maior risco de violência, nomeadamente sexual. “Enquanto dormem, se lavam, tomam banho ou se vestem em abrigos de emergência, tendas ou campos, o risco de violência sexual é uma realidade trágica das suas vidas como migrantes ou refugiados”, disse Bachelet na sessão. “A juntar a isto, está o perigo crescente do tráfico de seres humanos, do casamento infantil forçado que as mulheres e raparigas em movimento suportam”.
Esmeralda (nome protegido), tem 15 anos e é a Delegada Nacional do Movimento de crianças e adolescentes trabalhadores organizados no Peru. Nasceu no seio de uma família de agricultores, onde os efeitos das alterações climáticas são algo com o qual têm de lidar todos os dias.
A escassez de água potável forçou mulheres e raparigas a procurar águas nos rios ou nas profundezas da selva, o que aumentou o risco de violência sexual. Em áreas de exploração madeireira ilegal, as mulheres são o principal alvo de grupos criminosos e muitas delas desaparecem.
“Devido às alterações climáticas, ocorrem geadas e outras mudanças drásticas de temperatura, levando as mulheres e raparigas a trabalharem mais para obterem um rendimento e recursos para as suas famílias”, conta Esmeralda à ONU News.
Na sessão também foi discutido o perigo em que as mulheres ativistas se colocam por defenderem os direitos ambientais para proteger a terra, a água, a natureza e as comunidades. No México e na América Central, entre 2016 e 2019, foram registados cerca de 1.698 atos de violência contra as mulheres defensoras dos direitos humanos.
Neste painel de discussão, Bachelet deu recomendações sobre como prevenir e eliminar a violência contra a mulher, no âmbito das consequências das alterações climáticas. As medidas passam pela capacitação das mulheres no que toca à preparação em caso de catástrofe; fornecimento de meios alternativos de subsistência quando confrontadas pela crise climática e a responsabilização dos perpetuadores de violência. A Alta-Comissária destaca também a importância das mulheres terem uma participação plena e igualitária e liderarem nas questões climáticas.
Artigo por Sara Teixeira