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COSMOS: O CAMINHO É DO CAMINHANTE

Uma reflexão sobre um outro lugar e um outro mundo.

Uma viagem constante que procura a cura. O sarar das feridas de um passado e da dor que lhe trespassa. Esta é a caminhada em busca da identidade cultural que foi roubada pela colonização há mais de 500 anos atrás.

“Temos raízes, temos história, temos passado e temos futuro.”, afirma Cleo Diária, uma das autoras da peça. O cosmos é a segunda peça a estar em cena no teatro D. Maria II da autoria de três mulheres negras: Cleo Diária, Nádia Yracema e Isabél Zuaa. 

Interpretada por atores com origens em países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP), cada uma das personagens acrescenta riqueza e particularidade à história que está a ser contada. Estranheza, dúvida e representatividade são os aspetos mais sentidos por quem a assiste. Toda a narrativa foi feita no feminino para causar questionamento e quebrar a ideia de exclusão pela linguagem. 

Contrariando a ideia de que a existência humana é uma linha reta entre o presente, o passado e o futuro, a história do Cosmos reflete um outro mundo e um outro lugar em que a noção de tempo é espiralar. Com a fusão das crenças da tecnologia ancestral e da astrologia que surgiu, em Africa, vemos a jornada das “corpas” negras. Estas corpas são caminhantes que procuram curar algo que não experienciaram, mas sentiram e continuam a sentir em todo o seu corpo. Caminham para o passado, mas sentem no presente com o objetivo de projetar um futuro. Trata-se de um questionamento dos afrodescendentes sobre as suas origens reais.

 Há uma mensagem subjacente por trás da narrativa, toda ela ligada às baixas expectativas em que o continente africano é tido em conta. O facto de o outro passado ser ficcionado, abre espaço para pensar no que de facto leva a sociedade a ver, de uma forma pejorativa, este continente. “Parece que os louros do continente africano nos foram escondidos”, comenta Isabél Zuaa.  Segundo a mesma, é necessária muita energia para conseguir retirar a perspetiva negativa que o continente europeu e o ocidente têm de Africa. As corpas são vistas como passivas e não existe muito a falar sobre uma sociedade que já existia antes de ser colonizada. 

Aquelas pessoas só começaram a existir depois daquele navio ter chegado? Aquele povo não resistiu? Foi fácil retirar as terras aquela comunidade? O saque foi antes uma salvação de uma comunidade primitiva?  As corpas negras procuram conhecer o seu passado porque não sabem a resposta de muitas das questões para a sua existência no presente. Na peça, a noção de Banzo vem ao de cima. Banzo é uma sensação de vazio constante das corpas negras, um vazio ligado à ancestralidade. Uma saudade da história que foi retirada e deixada de contar.

 Os descendentes das regiões colonizadas estão num processo de verdade e de aprendizagem. Uma frase que é nos deixada nesta peça é que “o caminho é do caminhante”, o que indica que apesar de uma pessoa fazer parte de uma sociedade, de um coletivo, o caminho vai ser sempre dela. A cura é coletiva, mas também individual. Este espetáculo é um apelo a que cada um encontre o seu caminho. “Não estamos aqui a representar todas as pessoas negras, estamos aqui para representar todos aqueles que se sentirem tocados ou conectados com esta forma artística”, destaca Cleo diária. A comunidade negra também precisa de individualidade e essa mesma diferença é percetível no papel de cada personagem.

O Cosmos é uma peça de teatro que ficciona um futuro no qual o navio nunca chegou a partir de Portugal. Fala do processo de autoconhecimento das corpas, das suas dores e das suas diferenças. O que encontraram neste futuro alternativo foi a multiplicidade, a pluralidade, o sonho e a cura. 

Esta história mistura filosofia, momentos introspetivos, critica social e aspetos da cultura e mitologia africanas. Os atores relevam a importância de que a viagem não terminou e que com o projeto tiveram também a oportunidade de se conheceram uns aos outros. “A nova geração africana está a reivindicar o seu espaço através da arte. Na década de 90, havia um preto no palco e era eu. Hoje, somos 9 a contar esta história e vejo muitos aqui no público para a ouvir e sentir.”, conta Ângelo Torres, um dos personagens da peça.

Cosmos é a segunda parte de uma trilogia iniciada pela peça Auroras Negras, em 2020. Estreou no dia 23 de junho no Teatro de D. Maria II e vai ficar em exibição até dia 3 de julho.  “É um honra poder contar esta história e poder arriscar com a arte”, explicam as autoras. A peça é uma demonstração da resistência e da ousadia da comunidade negra que sempre existiu e sempre existirá.

Artigo por Sara Teixeira

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